
Telê Santana nos deixou em 21 de abril de 2006. Mas, sinceramente, às vezes parece que o futebol foi junto com ele.
Num tempo em que ganhar virou obrigação cega e jogar bem virou detalhe, lembrar de Telê é quase um ato de rebeldia. Ele foi o técnico que ousou contrariar a lógica fria do resultado. Que dizia, sem medo e sem meias palavras: “futebol é arte, não é guerra”.
Nascido em Itabirito, interior de Minas, Telê foi ponta-esquerda antes de virar maestro da prancheta. Começou no Itabirense, passou pelo América de São João del-Rei, brilhou no Fluminense e, depois de pendurar as chuteiras, transformou os vestiários em salas de aula.

Foi no comando técnico que virou lenda. Campeão carioca com o Fluminense em 1969. Campeão brasileiro com o Atlético Mineiro em 1971 — o primeiro título nacional do clube. Passou também por Botafogo, Grêmio, Palmeiras… mas foi no São Paulo que sua genialidade atingiu o ápice.
De 1990 a 1996, o Morumbi virou sua casa e seu palco. Montou um time que venceu tudo e encantou todos: duas Libertadores, dois Mundiais, um Brasileiro, duas Recopas, uma Supercopa, dois Paulistas. Tudo isso com jogo apoiado, triangulações, posse consciente e craques soltos — mas treinados até o último detalhe.
📊 Os números falam por si:
▫️ São Paulo: 434 jogos, 198 vitórias, 121 empates e 91 derrotas.
▫️ Atlético-MG: 245 jogos e o título brasileiro de 1971.
▫️ Seleção Brasileira: 54 jogos, 37 vitórias, 12 empates e só 5 derrotas.

E na Seleção? Ah, aí mora a grande ironia da história. Não ganhou a Copa. Mas quem viu 1982 e 1986 sabe que Telê não precisava da taça. Seu Brasil foi o time do toque refinado, do meio-campo pensante, da alegria responsável. Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Cerezo, Éder… Telê juntou um exército de artistas e disse: joguem com liberdade, mas joguem com respeito. E eles jogaram.
Se hoje o futebol é engessado, Telê era um sopro de inteligência e emoção. Um técnico que tratava o jogador como cérebro — e não só como perna. Que cobrava sim, que era exigente sim, mas que dava a direção com clareza.
🎙️ Armando Nogueira uma vez cravou: “Telê ensinava seus jogadores a pensar o jogo com beleza e inteligência.”
🎙️ Raí, seu capitão no São Paulo, não esquece: “Telê nos ensinou que vencer com arte é possível e necessário.”
🎙️ Muricy, que foi seu auxiliar, resume bem: “Telê era duro, mas justo. Ele nos fazia entender que cada detalhe importa.”

Hoje, quando se discute quem foi o maior técnico da história do Brasil, o nome dele sempre aparece. E não por nostalgia, mas por justiça. Telê Santana foi um técnico à frente do tempo. E talvez, por isso mesmo, esteja tão ausente do presente.
Ele era um romântico com método. Um sonhador com planilha. Um obcecado por detalhes que fazia o simples parecer divino.
E talvez você pense: “Ah, mas ele não venceu a Copa.”E eu te digo: ele venceu algo maior — venceu o tempo.
